"Kiano"

Como muitos sabem, a era da comunicação tem arranjado suas diversas formas para alcançar e aprisionar os tolos mortais.
Pedras reposicionadas, marcas em árvores, pinturas rupestres, sinais de fumaça, telegramas, cartas, telégrafos, telefones, computadores, e-mails e já nem sei mais do que estou falando.
Mas o certo é que não venho dar uma aula de história, mas sim contar um novo caso de meus pacientes eletrônicos e suas crises existenciais.
Depois de muito tempo tratando do Caso “Delirium”, descobri que sua maior doença não se tratava de seu jeito EMO de ser. Aos poucos vi que as companhias também lhe faziam grande mal. Não era apenas o caso de sua compulsividade de se tornar mais chamativo e depois ter crises homéricas achando que não estava sendo compreendido. Delirium tinha lá seus problemas pessoais de um amor não correspondido. Amor este que não lhe trazia pacotes necessários para que sua auto-estima melhorasse. Conversavam ambos no dia a dia, mas a moça tinha lá suas poses, fazendo promessas e as descumprindo todas.
Delirium não suportou, mudou-se para outro local, sendo perseguida ainda por um tempo por sua suposta musa. Claro... Como uma Dra. Preocupada com seus pacientes, conheci a causadora de todos os problemas e fiz um tratamento de choque por três meses.
Não sei bem se seria apenas um tratamento de choque, já que precisei adentrar sua mente, abrir suas entranhas, mostrar um lado sádico em torturas delongadas até escutá-la gritar e confessar porque não aumentava a auto-estima do pobre Delirium, pois estava adoentada, fraca e que não sabia como dizer isso.
O que eu poderia fazer a não ser formar um triângulo amoroso de Delirium, Bho e Go.
Caso terminado, depois de muitas batalhas e lá fui eu encontrar Kiano.
Preocupado por não ser tão atualizado quanto seus irmãos, Kiano estava silencioso, não conseguindo se conformar porque ninguém entrava em contato com ele além de mim, eis que em um momento de distração minha Kiano tentou um suicídio por afogamento.
Rapidamente resgatei Kiano que parecera fazer questão de aspirar água para dentro de suas entranhas.
Eu mal podia acreditar e precisei agir o mais rápido que pude, expelindo a água de suas entranhas, mantive Kiano em observação por muito tempo.
Sobreviveu, mas infelizmente os danos da água foram prejudiciais.
Kiano começou a se tornar um caso que muitos classificariam como EMO, pois às vezes era possível ver sua janela pintada toda de preto, quando não com letras estranhas em meio a toda aquela negritude.
Por vezes Kiano batia o pé, agindo de forma contrária, daquela que eu bem conhecia, colocando muitas vezes laçarotes ao invés de gravatas.
O caso vai ficando mais grave, à medida que percebo que Kiano está ficando insano.
Pude perceber que ele começou a mostrar um lado masoquista, por mais que eu tenha cuidado dele. Tenho precisado surrá-lo para que ele me dê as informações necessárias para que eu saiba seu verdadeiro estado e consiga entrar em contato com as demais pessoas que estão atrelados a ele.
Temo pelo dia que Kiano, um dia sucumba a tudo isso, tal qual seu irmão mais velho que simplesmente não despertou no dia seguinte. Por mais que eu tenha tentado ressuscita-lo.
Mas o que mais me intrigou no irmão mais velho de Kiano é que um outro Dr. conseguiu trazê-lo de volta, depois de bater, abrir, fechar, abrir de novo e fechar de novo, aplicando em seguida uma centelha de vida. Pensando bem... acho que o problema da família do Kiano é que eles são verdadeiros Masoquistas.

1 comments:

  Nanda Nascimento

20:52

Olá Try,

Muito bacana, adorei a história deste paciente e de suas crises, bem envolvente!

Beijos e flores!!